sexta-feira, 22 de maio de 2015





FOTOGRAFIA  REDONDA  E  ESFERICA

Valery Pugatch




                Desde o surgimento da fotografia,   durante o século XIX,  foram adotadas  inúmeras maneiras de expor uma foto.  Entenda-se como maneira de expor,  a forma,  ou o formato  como a foto é impressa em papel ou difundida pelos meios eletrônicos atuais. 



                     A descoberta da fotografia se deu com a percepção de que no interior de uma peça escura a luz do dia proveniente de um pequeno orifício na parede formava uma imagem arredondada e invertida na parede oposta.  Passou-se então a pesquisar elementos que captassem e registrassem essa imagem formada.  Eram os primeiros sensores fotográficos,  gigantes, que começavam a surgir.  Com o decorrer dos tempos surgiu o filme fotográfico, película de acetato  contendo substâncias químicas sensíveis à luz que a registravam de forma negativa. 



                  Na tecnologia de hoje,  a Fotografia Digital,  o que mudou fundamentalmente foi o tipo de sensor, além do acréscimo de facilidades operacionais decorrentes da eletrônica e computação.  Deixou-se de lado o filme fotográfico e passou-se a utilizar o sensor digital,  que capta as imagens através de impulsos eletrônicos e pontos de luz chamados Pixels,  armazenando-as  em uma memória externa.  As características ópticas não tiveram alterações.  Os sensores digitais,  porém,  repetiram o formato retangular dos filmes fotográficos,  produzindo imagens recortadas em relação àquelas que as lentes lhes oferecem.



                       No início do século passado nossos ancestrais colocavam nas paredes de suas casas fotos arredondadas em preto e branco de casamentos ou do patriarca e matriarca da família. Modernamente, entre os formatos que as fotografias passaram a ser captadas e impressas passou a existir o quadrado  1 X 1,  o tradicional 4 X 3,  o profissional formato 3 X 2 (35mm),   o moderno 16 X 9 (WideScreen).    E mais alguns outros,  especialmente aqueles apresentados pela indústria cinematográfica,  pródiga em nos oferecer formatos acompridados  na dimensão horizontal. 



                        Os argumentos para justificar  este ou aquele formato são inúmeros.  Aqueles que defendem por exemplo os formatos  compridos justificam com o fato de que estes são mais abrangentes para o olho humano que os demais.  O formato quadrado é justificado com as dimensões idênticas e confiáveis  na altura e na largura.   O formato circular não necessita de justificativa,  será sempre o mais abrangente,  tanto na dimensão vertical como na horizontal.  Além de  permitir uma variação enriquecida,  com vantagens,  para a terceira dimensão.



                     Vale  lembrar o início da TV,  ainda em preto e branco  e com uma conformação de tela quase redonda,  lá na década de 1950 ou 1960,  mesmo que tenhamos essa imagem somente como recordação.  No início deste século as TVs mudaram  seu padrão convencional  4 X 3 de tubo pelo formato 16 X 9 digital,  mais comprido e mais abrangente.  Pois acreditem,  poderemos ter em um futuro não muito remoto  imagens de TV, de cinema e também fotografias circulares.



                       Aristóteles e Pitágoras,  há 2.500 anos,  aceitavam a esfericidade da Terra,  em oposição ao conceito vigente até então de Terra Plana.  A  Terra Redonda (ou esférica) trouxe uma das quebras de paradigma mais fortes que se tem notícia.   Se formos pensar nos fundamentos da imagem,  veremos que o olho humano é esférico,  e as lentes que captam as imagens de fotografia, de cinema e de TV são e sempre foram redondas.  A imagem é transferida para o elemento sensitivo sendo aí que sofre o corte para se tornar quadrada ou retangular segundo os vários padrões já apresentados. 



                  O processamento da imagem após a luz atingir o sensor é que transforma seu aspecto redondo e radial em imagens  3 X 2,  4 X 3,  16 X 9, e demais formatos.   Se considerarmos a existência de um sensor redondo de captação de imagens,  poderemos imaginar um aproveitamento de 100% da imagem que chega proveniente das lentes,  sem cortes.  Teremos então fotos redondas,  circulares,  que manterão a mesma proporção entre  diâmetro e  circunferência,  mesmo que caibam na palma da mão ou ocupem todo um palco de teatro.





                                                                                Imagem Redonda gerada pela Lente                                     

                                                                                  Estadio Centenario,  Montevideo     




                                                                                     Imagem em Formato  3 X 2 





                                                                                Imagem em Formato  16 X 9                                             





                                                                                       Imagem em Formato  1 X 1 


                                                     
                                 


                           A Luz é a alma de tudo em fotografia.   Vamos imaginar uma loja que vende latas de tinta para pintura de residências.  Há uma estante com latas de tinta fechadas,  cada uma de cor diferente,  amarela, verde, vermelha, azul, preta, laranja,  lilás  e branca.  As latas estão hermeticamente fechadas.  Se conseguíssemos estar dentro de cada uma dessas latas,  mesmo  estando fechadas,  qual seria nossa sensação ao abrir os olhos e tentar ver de que cor é a tinta da lata que estamos dentro ?  Todas seriam pretas,  não é mesmo?  Claro,  pois todas estariam fechadas e nenhuma luz estaria entrando na lata,  não permitindo dessa forma que apreciássemos seu conteúdo...



                         Fotografia  não existe sem luz.  E luz se irradia para todos os lados,  de forma radial.  Ou seja,  partindo de um ponto central para todas as direções,  não só nos dois planos da fotografia atual, como no terceiro plano das imagens em 3D.  E se quisermos ir mais longe,  essa irradiação se difunde em planos infinitos em direções infinitas,  tornando as imagens volumétricas em vez de planas.  Admitindo-se a possibilidade da existência de sensores esféricos de captação de imagens,  podemos também admitir imagens volumétricas,  fotografias esféricas,  aproximando-se de forma muito intensa da realidade.



                           Teremos certamente no futuro imagens redondas na parede de nossas residências,  além de termos na sala de nossa casa uma tela de TV redonda ocupando o espaço entre o piso e o teto do ambiente,  além de vermos em nosso computador pessoal,  de tela redonda,  as fotos que fizemos de nossos filhos no parque.  Ao irmos no cinema estaremos em um local que apresentará imagens esféricas em movimento em três dimensões,  tipo bola de cristal da cartomante.  Essa esfera,  ou meia esfera no caso da transmissão de uma partida de futebol,  permitirá que se escolha o local preferido para assistir ao espetáculo,  tipo ficar atrás de uma das metas para ver os gols mais de perto.



                        Quanto tempo levará para chegarmos lá?  Não sabemos,  mas temos a certeza que será  marcante.  A evolução da tecnologia é estupenda,  às vezes surpreendente.  E às vezes nos remete a valores que eram cultivados no passado,  como a foto redonda.  Um exemplo atual disso é a impressão digital humana,  que foi usada nos séculos passados para identificar pessoas através das marcas circulares existentes na ponta dos dedos,   e que passa a ser usada novamente em nossa era como poderoso elemento identificador.



                        A Copa do Mundo de Futebol teve sua primeira edição  em 1930,  no Uruguai.   Estaremos vivenciando os 100 anos da competição no ano de 2030.  A idéia predominante é repetir o local da primeira edição do torneio com a disputa da competição no mesmo Estádio Centenário em Montevidéu,  além de  jogos em Buenos Aires na Argentina e em Santiago do Chile,  também  sedes do evento. 



                                    Quem sabe assistiremos no salão de festas do nosso condomínio  aos jogos da Copa do Mundo de 2030 na Esfera, de forma redonda, volumétrica e tridimensional,  escolhendo junto com nossos familiares a posição que mais nos agrada em relação ao gramado...






Um comentário:

  1. Magnífico artigo sobre "Fotografia Redonda e Esférica" Valery Pugatch. Você mostra no texto os seus conhecimentos de fotógrafo e engenheiro e de um profundo conhecedor da área. Percebo também um traço de cientista e visionário. Parabéns pelo seu artigo que considero oportuno, útil e muito interessante.
    Zenório Piana
    Doutor em Agronomia e Fotógrafo Amador
    Florianópolis, SC

    ResponderExcluir