FOTOGRAFIA REDONDA
E ESFERICA
Valery Pugatch
Desde o surgimento da
fotografia, durante o século XIX, foram adotadas inúmeras maneiras de expor uma foto. Entenda-se como maneira de expor, a forma,
ou o formato como a foto é
impressa em papel ou difundida pelos meios eletrônicos atuais.
A descoberta da fotografia se deu
com a percepção de que no interior de uma peça escura a luz do dia proveniente
de um pequeno orifício na parede formava uma imagem arredondada e invertida na
parede oposta. Passou-se então a
pesquisar elementos que captassem e registrassem essa imagem formada. Eram os primeiros sensores fotográficos, gigantes, que começavam a surgir. Com o decorrer dos tempos surgiu o filme
fotográfico, película de acetato
contendo substâncias químicas sensíveis à luz que a registravam de forma
negativa.
Na tecnologia de hoje, a Fotografia Digital, o que mudou fundamentalmente foi o tipo de
sensor, além do acréscimo de facilidades operacionais decorrentes da eletrônica
e computação. Deixou-se de lado o filme
fotográfico e passou-se a utilizar o sensor digital, que capta as imagens através de impulsos
eletrônicos e pontos de luz chamados Pixels,
armazenando-as em uma memória externa. As características ópticas não tiveram
alterações. Os sensores digitais, porém,
repetiram o formato retangular dos filmes fotográficos, produzindo imagens recortadas em relação
àquelas que as lentes lhes oferecem.
No início do século passado
nossos ancestrais colocavam nas paredes de suas casas fotos arredondadas em
preto e branco de casamentos ou do patriarca e matriarca da família. Modernamente,
entre os formatos que as fotografias passaram a ser captadas e impressas passou
a existir o quadrado 1 X 1, o tradicional 4 X 3, o profissional formato 3 X 2 (35mm), o moderno 16 X 9 (WideScreen). E
mais alguns outros, especialmente
aqueles apresentados pela indústria cinematográfica, pródiga em nos oferecer formatos acompridados na dimensão horizontal.
Os argumentos para justificar este ou aquele formato são inúmeros. Aqueles que defendem por exemplo os formatos compridos justificam com o fato de que estes
são mais abrangentes para o olho humano que os demais. O formato quadrado é justificado com as
dimensões idênticas e confiáveis na
altura e na largura. O formato circular
não necessita de justificativa, será
sempre o mais abrangente, tanto na
dimensão vertical como na horizontal. Além
de permitir uma variação enriquecida, com vantagens, para a terceira dimensão.
Vale lembrar o início da TV, ainda em preto e branco e com uma conformação de tela quase redonda, lá na década de 1950 ou 1960, mesmo que tenhamos essa imagem somente como
recordação. No início deste século as
TVs mudaram seu padrão convencional 4 X 3 de tubo pelo formato 16 X 9
digital, mais comprido e mais
abrangente. Pois acreditem, poderemos ter em um futuro não muito
remoto imagens de TV, de cinema e também
fotografias circulares.
Aristóteles e Pitágoras, há 2.500 anos, aceitavam a esfericidade da Terra, em oposição ao conceito vigente até então de
Terra Plana. A Terra Redonda (ou esférica) trouxe uma das
quebras de paradigma mais fortes que se tem notícia. Se formos pensar nos fundamentos da
imagem, veremos que o olho humano é
esférico, e as lentes que captam as
imagens de fotografia, de cinema e de TV são e sempre foram redondas. A imagem é transferida para o elemento
sensitivo sendo aí que sofre o corte para se tornar quadrada ou retangular
segundo os vários padrões já apresentados.
O processamento da imagem após a
luz atingir o sensor é que transforma seu aspecto redondo e radial em
imagens 3 X 2, 4 X 3,
16 X 9, e demais formatos. Se
considerarmos a existência de um sensor redondo de captação de imagens, poderemos imaginar um aproveitamento de 100%
da imagem que chega proveniente das lentes,
sem cortes. Teremos então fotos
redondas, circulares, que manterão a mesma proporção entre diâmetro e
circunferência, mesmo que caibam
na palma da mão ou ocupem todo um palco de teatro.
Imagem Redonda gerada pela Lente
Estadio Centenario, Montevideo
Imagem em Formato 3 X 2
Imagem em Formato 16 X
9
Imagem em Formato 1 X 1
A Luz é a alma de tudo em
fotografia. Vamos imaginar uma loja que
vende latas de tinta para pintura de residências. Há uma estante com latas de tinta
fechadas, cada uma de cor diferente, amarela, verde, vermelha, azul, preta,
laranja, lilás e branca.
As latas estão hermeticamente fechadas.
Se conseguíssemos estar dentro de cada uma dessas latas, mesmo
estando fechadas, qual seria nossa
sensação ao abrir os olhos e tentar ver de que cor é a tinta da lata que
estamos dentro ? Todas seriam
pretas, não é mesmo? Claro,
pois todas estariam fechadas e nenhuma luz estaria entrando na
lata, não permitindo dessa forma que
apreciássemos seu conteúdo...
Fotografia não existe sem luz. E luz se irradia para todos os lados, de forma radial. Ou seja,
partindo de um ponto central para todas as direções, não só nos dois planos da fotografia atual, como
no terceiro plano das imagens em 3D. E
se quisermos ir mais longe, essa
irradiação se difunde em planos infinitos em direções infinitas, tornando as imagens volumétricas em vez de
planas. Admitindo-se a possibilidade da
existência de sensores esféricos de captação de imagens, podemos também admitir imagens
volumétricas, fotografias
esféricas, aproximando-se de forma muito
intensa da realidade.
Teremos certamente no futuro imagens
redondas na parede de nossas residências,
além de termos na sala de nossa casa uma tela de TV redonda ocupando o
espaço entre o piso e o teto do ambiente,
além de vermos em nosso computador pessoal, de tela redonda, as fotos que fizemos de nossos filhos no
parque. Ao irmos no cinema estaremos em
um local que apresentará imagens esféricas em movimento em três dimensões, tipo bola de cristal da cartomante. Essa esfera,
ou meia esfera no caso da transmissão de uma partida de futebol, permitirá que se escolha o local preferido para
assistir ao espetáculo, tipo ficar atrás
de uma das metas para ver os gols mais de perto.
Quanto tempo levará para
chegarmos lá? Não sabemos, mas temos a certeza que será marcante.
A evolução da tecnologia é estupenda,
às vezes surpreendente. E às
vezes nos remete a valores que eram cultivados no passado, como a foto redonda. Um exemplo atual disso é a impressão digital
humana, que foi usada nos séculos
passados para identificar pessoas através das marcas circulares existentes na ponta
dos dedos, e que passa a ser usada novamente em nossa era
como poderoso elemento identificador.
A Copa do Mundo de Futebol teve
sua primeira edição em 1930, no Uruguai.
Estaremos vivenciando os 100 anos da competição no ano de 2030. A idéia predominante é repetir o local da
primeira edição do torneio com a disputa da competição no mesmo Estádio
Centenário em Montevidéu, além de jogos em Buenos Aires na Argentina e em
Santiago do Chile, também sedes do evento.
Quem sabe assistiremos no salão
de festas do nosso condomínio aos jogos
da Copa do Mundo de 2030 na Esfera, de forma redonda, volumétrica e
tridimensional, escolhendo junto com
nossos familiares a posição que mais nos agrada em relação ao gramado...
Magnífico artigo sobre "Fotografia Redonda e Esférica" Valery Pugatch. Você mostra no texto os seus conhecimentos de fotógrafo e engenheiro e de um profundo conhecedor da área. Percebo também um traço de cientista e visionário. Parabéns pelo seu artigo que considero oportuno, útil e muito interessante.
ResponderExcluirZenório Piana
Doutor em Agronomia e Fotógrafo Amador
Florianópolis, SC